07/02/2012 - 15h34
Ricardo Koiti Koshimizu / Agência Senado
A
onda de violência na Bahia, em meio à greve de policiais militares
daquele estado, foi tema de discussão na Subcomissão Permanente de
Segurança Pública do Senado, que se reuniu nesta terça-feira (7). Para o
senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a greve reflete a situação do
sistema de segurança pública em todo o país, "que passa por uma crise
dramática". Já o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), apesar de defender o
direito dos policiais de fazer reivindicações salariais, condenou a
forma como o movimento vem sendo conduzido, classificando-a como
"covarde" e dizendo que não merece anistia.
Randolfe Rodrigues chegou a propor a ida do grupo à Bahia, mas a sugestão foi rejeitada pelos outros integrantes da subcomissão. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) disse que uma visita de parlamentares, no ambiente tenso em que se encontra o estado, pode gerar interpretações equivocadas e "desastrosas".
- Se não podemos dar a ideia de
que nos solidarizamos com os grevistas nem com o governo, se não podemos
acenar com a hipótese de anistia e se não fomos convidados, o que é que
vamos fazer lá? - questionou Aloysio Nunes.
Essa
posição contou com o apoio dos senadores Armando Monteiro (PTB-PE) e
Lindbergh Farias. Aloysio Nunes também afirmou que uma eventual visita
"pode sugerir que o Senado está ávido para votar a PEC 300, coisa que
não é consensual nesta Casa, muito pelo contrário" - referindo-se à
proposta de emenda constitucional que fixa um piso salarial nacional
para a categoria.
Precarização do trabalho
Randolfe
Rodrigues está entre os que defendem a PEC 300/2008, que tramita na
Câmara dos Deputados. Ele argumenta que é preciso valorizar os
profissionais de segurança e lembrou que muitos deles ganham menos de R$
1,5 mil por mês.
- O trabalhador da segurança
pública é o que está mais próximo do crime. Basta um passo para ele
pular o muro que divide a ordem e a lei da criminalidade e da exceção.
Por isso, sua atividade tem de ser valorizada - reiterou.
Para
Randolfe, se essa questão não for resolvida, de nada adiantará a
intervenção do Exército, da Polícia Federal e da Força Nacional de
Segurança Pública na Bahia - onde se teme que esses contingentes entrem
em confronto com os grevistas. Ele também ressalta que "a precarização
dos salários desses profissionais" é o que provoca tanto a greve na
Bahia como movimentos similares ocorridos no Ceará e, no ano passado, no
Rio de Janeiro.
- Ao condenar os grevistas,
estamos culpando só o rio que transborda, e não as margens que o
oprimem. Não estamos debatendo as causas do problema - declarou
Randolfe.
Mas Lindbergh Farias disse que a
mobilização dos bombeiros no Rio de Janeiro, por exemplo, foi muito
diferente da que vem sendo feita pelos policiais militares na Bahia. Ele
argumentou que, se os métodos utilizados agora forem "legitimados",
haverá outros movimentos com o mesmo tipo de atuação. O senador lembrou
que foi o autor do projeto de lei que concedeu anistia aos bombeiros do
Rio de Janeiro, mas frisou que será contra qualquer anistia para os
grevistas da Bahia.
- É inaceitável motim armado
para parar ônibus. É inaceitável colocar crianças na Assembleia
Legislativa [que foi tomada pelos grevistas]. Isso é chantagem. É quase
terrorismo - protestou Lindbergh.
Projeto de lei
Presidente
da Subcomissão Permanente de Segurança Pública, o senador Pedro Taques
(PDT-MT) anunciou que, além dos acontecimentos na Bahia, o grupo deverá
discutir a eventual propagação do movimento a outras partes do país,
"tendo em vista as notícias de que há uma grande atuação das associações
policiais para pressionar o Congresso e, notadamente, a Câmara dos
Deputados, a aprovar a chamada PEC 300".
Pedro Taques apontou o PLS 710/11,
projeto de lei de Aloysio Nunes que visa regulamentar o direito de
greve dos servidores públicos, como outro assunto a ser examinado pela
subcomissão. O projeto proíbe a greve nas Forças Armadas, nas Polícias
Militares e nos Corpos de Bombeiros Militares.
-
O direito de greve de servidores está previsto no artigo 37 da
Constituição, mas, passados 22 anos, o Congresso ainda não a
regulamentou - lembrou Pedro Taques.
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