14h14m - 06 de Fevereiro de 2012
Atualizado em 01h26m
FONTE: AGÊNCIA MINAS
Cantora Daniela Mercury se apresenta no Carnaval de Salvador com um dos modelos
Divulgação
As peças são vendidas no showroom em São Paulo, feiras em Paris e Tóquio e 70 lojas pelo Brasil
O cenário é inusitado. Agulhas em punho, novelo de lã ao lado e tem
início uma produção de peças de tricô e crochê atípica: os artesãos,
além de serem todos homens, são detentos da Penitenciária Professor
Ariosvaldo Campos Pires, localizada em Juiz de Fora, Zona da Mata
mineira. O trabalho dá tão certo, que as peças já ganharam o mundo e são
vendidas no showroom em São Paulo, feiras em Paris e Tóquio e 70 lojas
multimarcas no Brasil. Além disso, a cantora Daniela Mercury vai usar
uma peça no Carnaval de Salvador e, recentemente, a apresentadora da TV
Globo, Angélica, apareceu em um programa com um dos modelos.
Ândria Valéria Andries Pinto é quem comanda a penitenciária e apostou
nos detentos. “Falei com ela que em dez dias a gente ia conseguir provar
que eram capazes. E deu tão certo que eles até já criaram um modelo”,
revela. Os detentos realizam o trabalho desde 2009, quando foram
capacitados e aprenderam o ofício. Célio Tavares de Souza foi um deles.
Hoje no regime semi-aberto, ele foi contratado pela Doisélles. Trabalha
na sede da empresa como auxiliar de produção e acredita que a
oportunidade dada dentro da penitenciária foi fundamental. “Levantou
minha auto-estima saber que a gente pode ser capaz de se reintegrar à
sociedade. Essa é uma oportunidade muito importante para os recuperandos
da unidade”, afirma.
Este também foi um dos motivos que levou a proprietária da marca a
trabalhar com os detentos. “Eu acredito que o trabalho é o caminho para a
ressocialização”, destaca Raquell Guimarães. Ela também cita como
benefícios da parceria o controle da produção. “Queria organizar um
grupo, ensinar, treinar. Isso ajuda muito no controle de qualidade da
produção”, relata.
Profissão
Adenilson da Silva de Jesus participa do trabalho desde o início, em
2009. Ele calcula já ter produzido cerca de 300 peças. “É uma profissão.
É bom saber que a gente que fez e é bom fazer uma coisa diferente”,
diz.
Rafael Nogueira, ao contrário de Adenilson, está há poucos meses no
ofício, mas também já aprendeu a tricotar e crochetar e surpreendeu a
família. “Eles ficaram felizes. Meu pai, principalmente, ficou muito
surpreso. Pode ser que eu trabalhe com isso lá fora. A gente aprende
bastante aqui e, com certeza, pode ajudar a recuperar uma pessoa”,
destaca.
A Doisélles realiza o pagamento por peça de roupa produzida. O
‘salário’ é depositado na conta dos detentos que, em dois anos de
trabalho, já acumulam uma produção de mais de 10 mil peças. Além disso, a
cada três dias trabalhados, eles ganham a redução de um dia na pena.
Daniela Mercury
A cantora baiana Daniela Mercury vai usar no Carnaval em Salvador, na
Bahia, um modelo produzido pelos detentos. Ela é embaixadora da Unicef e
procurou o projeto após ficar sabendo do trabalho. Segundo a
diretora-geral da penitenciária, Ândria Valéria Andries, “uma empresária
da Daniela veio aqui e buscou uma roupa para ela ver. A cantora gostou
muito e abraçou a causa”.
Para o secretário de Estado de Defesa Social, Lafayette Andrada,
oportunidades como essa reforçam o compromisso do Estado com a
ressocialização dos presos. “O trabalho e o estudo são pilares
importantes na busca por reinserir os detentos na sociedade, por isso o Governo de Minas tem
investido bastante nessa área. Interessante destacar que, ao contrário
do que algumas pessoas pensam, os presos podem fazer trabalhos bastante
qualificados, como este que vem sendo desenvolvido em Juiz de Fora”,
ressalta.
Trabalho
Além dos 12 presos que confeccionam as roupas, outros 370 detentos da
Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires também trabalham enquanto cumprem
pena. O número representa cerca de 80% dos presos da unidade empregados
em alguma atividade.
Números no Estado
Minas Gerais é o Estado do país que tem, proporcionalmente, o maior
número de presos trabalhando. Hoje, mais de 11 mil detentos realizam
atividades profissionais enquanto cumprem pena. As atividades são
variadas e vão desde a produção artesanal até a construção civil.
Há unidades em que os presos fabricam bolas, sacolas ecológicas,
equipamentos eletrônicos e uniformes, além daquelas em que há padarias,
açougue e, até mesmo, uma fábrica de gessos. Pelo trabalho, os presos
recebem remição de pena - a cada três dias trabalhados, um a menos no
cumprimento da sentença – e, em muitos casos, remuneração (normalmente, ¾
do salário mínimo). O principal retorno, no entanto, não pode ser
contabilizado: é a oportunidade de começar uma vida nova, ainda dentro
dos presídios e penitenciárias.
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ass. Angelo Roncalli
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