01/03/2012 - 19h37
Milena Galdino, Nelson Oliveira e Anderson Vieira / Agência Senado
As
pressões pela reestruturação das finanças estaduais e municipais
ganharam impulso esta semana no Congresso. Depois da reunião dos
governadores com os presidentes do Senado e da Câmara, José Sarney e
Marco Maia, ocorrida na terça-feira (28), vários senadores, inclusive da
base do governo, vêm se pronunciando em um diapasão destinado a
convencer o Palácio do Planalto da impossibilidade de estados e
municípios continuarem honrando a dívida refinanciada com a União em
1997 e 1998.
A escala atingiu seu tom máximo nesta quinta-feira (1º) com a intervenção da senadora Marta Suplicy (PT-SP),
1ª vice-presidente do Senado, a propósito das críticas ao modelo atual
feitas pelo senador Luiz Henrique (PMDB-SC). Recordando sua passagem
pela Prefeitura de São Paulo, Marta se somou às vozes que reclamam do
governo federal uma saída para o endividamento dos estados e municípios.
-
Como ex-prefeita do terceiro orçamento do Brasil, que é o da prefeitura
de São Paulo, acho também que essa dívida é impagável. Não sei o que
estão esperando. Teve um sentido num momento, ajudou num primeiro
momento, mas agora se tornou algo que não tem mais nenhum sentido,
penaliza os estados, penaliza os municípios. Estou plenamente de acordo
com o senhor [Luiz Henrique] quando diz que todos devemos fazer pressão
sobre o governo para que isso possa ser revisto - ecoou a senadora.
Recursos para a saúde
Também nesta quinta, os senadores Wellington Dias (PT-PI), ex-governador do Piauí, e Marcelo Crivella
(PRB-RJ), recém-indicado ministro da Pesca, colocaram em destaque as
razões que vêm sendo apresentadas pelos governadores aos presidentes das
duas Casas do Congresso. Um dos problemas é a dificuldade de equilíbrio
entre receitas e despesas decorrentes da aprovação da regulamentação da
Emenda Constitucional 29 - que fixou percentuais mínimos de recursos a
serem aplicados no setor de saúde.
Do mesmo
modo, mostraram-se bastante preocupados com o aumento de 22% no piso
nacional dos professores, para o qual também não foram especificadas
novas fontes de recursos nos orçamentos dos estados. Além disso, de
acordo com Wellington Dias (PT-PI), os prefeitos calculam que neste ano
os municípios terão de arcar com despesas R$ 7 bilhões acima do
planejado.
Dinheiro do petróleo
Do
encontro, os governadores saíram com a promessa de que a Câmara votará
na segunda ou terceira semana de março o projeto que tem por objetivo
redistribuir entre todos os estados os royalties provenientes da
exploração do petróleo (PL 2.565/11). Mas deixaram no ar outra
preocupação: a possível aprovação da proposta de emenda à Constituição
que fixa um piso salarial nacional para policiais e bombeiros (PEC
300/08). Os governadores pediram que a matéria não entre em pauta em
2012, diante dos impactos significativos nas finanças dos estados.
-
O momento não nos permite colocar aos estados brasileiros uma proposta
que gere tanto impacto financeiro. Estabelecer um salário nacionalmente
traria um problema para arcar com essa despesa. Precisamos refletir
melhor e ter uma discussão mais profunda sobre o tema - respondeu Marco
Maia aos governadores.
O presidente da
Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, que também
participou do encontro, conclamou o Congresso a discutir mudanças no
pacto federativo, necessidade que vem sendo mencionada por Sarney há
algumas semanas.
Indexador
Na
quarta-feira (29), o PMDB já decidira em votação unânime se mobilizar
em prol da recuperação da capacidade de investimento dos estados, a
partir da mudança do indexador da dívida com a União. O líder da legenda
no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que o atual indexador da
dívida dos estados - o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna
(IGP-DI) - é incompatível com a realidade brasileira e com a capacidade
de pagamento dos estados, especialmente por sua vulnerabilidade diante
das variações no câmbio.
- Os governadores estão
apavorados com a perda de capacidade de investimento dos estados
brasileiros, que administram uma dívida de acordo com um modelo absurdo.
Quanto mais se paga mais continua a dever - disse.
O
PMDB vai lutar para que o indexador seja o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), conforme prevê o Projeto de Lei do Senado (PLS)
334/2011, de Eduardo Braga (PMDB-AM), que também condenou no Plenário a atual política de cobrança da dívida dos estados. Braga é ex-prefeito de Manaus e ex-governador do Amazonas.
Além
da condenação do indexador por Renan, o Plenário assistiu a discursos
contundentes, entre os quais de Wellington Dias, que voltaria à carga no
dia seguinte. Ele criticou o tratamento dos encargos da dívida dos estados
e defendeu um amplo debate sobre o pacto federativo a partir do Senado,
que representa o equilíbrio entre os entes da Federação. Também admitiu
ser mais fácil seu estado, o Piauí, discutir taxas de juros com o Banco
Mundial do que com o BNDES. Para o parlamentar, a maior racionalidade
nos juros resultará em maior capacidade de investimento do poder
público.
- Não pode o Tesouro Nacional, o
Ministério da Fazenda, tratarem os estados com taxas de 18% a 20%, mesmo
com todo o juro alto que temos hoje. A Selic hoje é metade daquilo que o
Brasil cobra de estados e municípios. Não há nada que justifique isso -
disse.
Pacto Federativo
Ao comentar, nesta quinta-feira, o anúncio do novo piso salarial de professores, a senadora Ana Amélia (PP-RS)
também destacou a necessidade de reavaliação do pacto federativo,
expressão que se refere a um acordo sobre a divisão dos recursos do país
entre os três entes da Federação: a União, os estados e o Distrito
Federal e os municípios. Ela sustentou que o valor - mesmo ainda não
sendo o justo pagamento da categoria, que mereceria mais - será pago com
dificuldade principalmente pelos estados.
- Não
é possível que a gente continue a aceitar esse desequilíbrio enorme
entre tudo o que é arrecadado pela União, a "prima rica da federação";
os Estados, que são os "primos remediados"; e os "primos pobres", que
são os municípios. Neles é que tudo acontece, recaindo sobre os
prefeitos municipais todo o peso de cobrança da comunidade, porque ela
vive no município.
Outro que lamentou as tensões
na federação brasileira foi o senador Armando Monteiro (PTB-PE). Em sua
opinião, é "inaceitável" que os estados continuem sendo cobrados da
forma atual.
Milena Galdino, Nelson Oliveira e Anderson Vieira / Agência Senado
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