ESPECIAL
03/01/2012 - 18h17
03/01/2012 - 18h17
Da Redação / Agência Senado
Os
estragos causados pela chuva em estados como Minas Gerais neste início
de 2012 remetem, inevitavelmente, às enchentes que mataram pelo menos
900 pessoas e desalojaram 23 mil no país no ano passado, principalmente
no Rio de Janeiro. O impacto da tragédia passada manteve o tema como um
dos mais importantes da pauta do Senado ao longo de 2011.
Em
reunião realizada pela Comissão Representativa do Congresso, ainda em
janeiro, parlamentares ouviram especialistas para tentar expor as causas
dos desastres e buscar formas de minimizar os estragos.
...
Já
o então secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e
Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Luiz
Antônio Barreto de Castro, disse que bastaria um investimento de R$ 36 milhões ao longo de 2011
para evitar tragédias de proporções iguais às de janeiro passado. Ele
foi substituído no cargo, na mesma época, por Carlos Nobre, pesquisador
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Comissão temporária
A
Comissão Temporária de Alterações no Sistema Nacional de Defesa Civil,
criada em maio, concluiu ser fundamental reduzir o tempo de resposta aos
desastres e recomendou ações adequadas de monitoramento, com eficientes
sistemas de alerta e alarme.
Após ouvir especialistas, população e conhecer experiências de outros países, o relator, senador Casildo Maldaner (PMDB-SC), apresentou um parecer
que sugere novas diretrizes para a área de prevenção de desastres no
Brasil e o reordenamento do Sistema Nacional de Defesa Civil com mais
recursos, pessoal qualificado e enfoque na prevenção. Parte das
propostas foi transformada no Projeto de Lei do Senado (PLS) 745/2011.
O parecer se refere, por exemplo, à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 10/2011,
que prevê no texto constitucional a criação do Sistema Nacional de
Defesa Civil (Sindec) e da carreira de agente de defesa civil. A PEC, do
senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), diz que o sistema nacional de defesa
civil será estruturado por lei federal e terá por objetivo planejar,
articular e coordenar as ações de defesa civil no território nacional,
com ações preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas
destinadas a evitar desastres e minimizar seus impactos para a população
e restabelecer a normalidade social.
Hoje o
Sindec existe por previsão da Lei 12.340/2010. A PEC, que pretende
firmar na Constituição o planejamento e a coordenação das ações de
defesa civil no território nacional, aguarda votação na Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).
Os
desastres naturais também foram debatidos na Comissão Mista Permanente
Sobre Mudanças Climáticas do Senado (CMMC). Em audiência realizada em
novembro, deputados e senadores defenderam a garantia de mais recursos para a prevenção, por meio de criação e reformulação de fundos específicos.
Criminalização
A
proposta da comissão também reestrutura o Fundo Especial para
Calamidades Públicas (Funcap), sugere novas fontes de recursos e prevê a
criminalização do gestor, público ou privado, que autorizar ou
estimular a ocupação de áreas de risco. Existe no texto, ainda, a
exigência de que se mantenha, nas cidades, um mínimo de 20 metros
quadrados de área verde por habitante.
- Em
síntese, é preciso reestruturar as regras do fundo de defesa civil no
Brasil e encontrar caminhos para atender a população, nos campos
preventivo e de reconstrução - explicou Maldaner ao apresentar o parecer
à Comissão, presidida pelo senador Jorge Viana (PT-AC).
De
acordo com Viana, o maior problema enfrentado pelo país nessa área é
que a maior parte dos recursos é aplicada em ações de resposta e
recuperação, sendo prevenção e preparação relegadas a um segundo plano.
-
Em vez de prevenir, entramos com o socorro depois que o desastre já
ocorreu. Isso é a prática no Brasil, isso é a prática nos estados, isso é
a prática na maioria dos municípios. O foco nas ações de resposta e
recuperação, além de demandar mais recursos públicos, não minimiza
riscos nem previne a perda de vidas humanas. E mesmo nas ações de
resposta e recuperação a atuação do poder público parece improvisada e
carente de planejamento eficiente e de recursos financeiros suficientes -
desabafou Jorge Viana em novembro no Plenário do Senado.
A
comissão temporária encerrou seus trabalhos pedindo agilidade a 19
propostas sobre o tema em análise no Senado e na Câmara. O parecer
seguirá para a Comissão Diretora com recomendações feitas a todas as
esferas de poder (federal, estadual e municipal).
Outros projetos
O Senado aprovou dois projetos que tratam diretamente da prevenção a desastres. Pelo Projeto de Lei do Senado (PLS) 23/2011,
do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), os municípios que apresentem áreas
de risco, como encostas de morros e várzeas de rios, terão de elaborar e
aprovar plano diretor de ordenamento territorial até 31 de dezembro de
2016. A proposta passou pela Comissão de Desenvolvimento Regional e
Turismo (CDR) e seguiu para exame da Câmara.
Em dezembro, o Plenário aprovou o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 52/2008,
que torna obrigatória a notificação à Defesa Civil em caso de
necessidade de ações preventivas, de socorro, assistenciais ou
recuperativas. Como foi modificado pelos senadores, o projeto voltou
para a Câmara, onde será votado de maneira definitiva.
Também tramitará em breve no Senado a Medida Provisória 547/2011,
que cria um cadastro nacional de cidades com áreas propícias a
escorregamento e o mapeamento anual do território. A medida modifica
justamente a Lei 12.340/2010.
Os municípios
cadastrados ficam obrigados a mapear, ter plano de contingência,
implementar obras de redução de riscos e fiscalizar para não haver novas
construções em áreas de risco - tudo com a ajuda dos estados e do
governo federal. Nos casos de ocupação não indicada desses territórios,
os municípios devem providenciar o reassentamento dos habitantes. A MP
tem vigência até 21 de março de 2012 e atualmente tranca a pauta da
Câmara dos Deputados.
Além disso, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou, em dezembro, substitutivo oriundo de dois projetos (PLS 189/2010 e PLS 203/2010),
que previam a realização de sorteio especial de loteria para uso em
ações emergenciais e de reconstrução. Na forma final, encaminhada à
Câmara, a proposta reserva 2,5% da arrecadação de todas as loterias
administradas pela Caixa Econômica Federal para o Fundo Especial para
Calamidades Públicas (Funcap).
Cartão de pagamento
A
maior novidade do governo federal neste ano para enfrentar as chuvas de
verão pode ser o Cartão de Pagamento de Defesa Civil (CPDC), criado
para sanar uma das grandes deficiências do socorro: a burocracia na
aquisição de serviços e produtos essenciais.
Emitido
pelo Banco do Brasil por convênio com a União e em nome de servidores
públicos pré-designados, o CPDC é usado para pagamento de despesas
imediatas de socorro e assistência às vítimas e para o restabelecimento
de serviços essenciais danificados por desastres. Entre as despesas
possíveis estão compra de alimentos, água potável, colchões e remédios.
O
cartão já foi testado no Sul. O estado de Santa Catarina e os
municípios de Brusque, Gaspar, Itajaí e Rio do Sul já gastaram R$
1.513.146,14 para conter os efeitos de enchentes de julho. O
detalhamento das despesas está disponível no Portal da Transparência do Governo Federal.
Ao todo, participam do projeto piloto 25 municípios de cinco estados: Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Alagoas e Pernambuco. Para que seja possível usar o cartão, o território precisa estar sob declaração de estado de emergência ou calamidade pública.
Ao todo, participam do projeto piloto 25 municípios de cinco estados: Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Alagoas e Pernambuco. Para que seja possível usar o cartão, o território precisa estar sob declaração de estado de emergência ou calamidade pública.
Em audiência pública realizada em junho
pela Comissão Temporária de Alterações no Sistema Nacional de Defesa
Civil, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, garantiu que
a facilidade não acarreta riscos de fraude.
- A
agilidade não prejudicará a transparência dos gastos, porque as
despesas serão divulgadas online no Portal da Transparência da
Controladoria-Geral da União (CGU). E, toda vez que o cartão for usado, a
gente vai saber quem está usando e quem está fornecendo o serviço -
observou o ministro na audiência.
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