A utilização do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) como
mecanismo de estímulo à economia trouxe efeitos para a arrecadação do
tributo e alguns municípios já prometem se mexer para pedir compensações
à União.
Os municípios temem que o efeito da redução do IPI na arrecadação do
tributo se amplie nos próximos meses. A redução do imposto para
eletrodomésticos, originalmente anunciada em dezembro com vigência até
março, foi prorrogada por mais três meses, até o fim de junho. Além
disso, no fim de março a redução do IPI foi ampliada para outros
segmentos, como móveis, laminados, papéis de parede e luminárias.
"A renúncia fiscal com o IPI é decidida pelo governo federal, mas
Estados e municípios acabam fazendo a renúncia juntos", diz o economista
Clóvis Panzarini, ex-coordenador de administração tributária da Fazenda
do Estado de São Paulo.
A União, na verdade, fica com menos da metade da arrecadação do IPI:
42%. O restante é distribuído a Estados, municípios e fundos regionais.
Do bolo do IR, a União fica com 52%.
No primeiro trimestre a arrecadação do IR teve elevação real de
7,56%. O recolhimento desse imposto no período, porém, ainda é resultado
do desempenho de 2011, muito puxado pelos lucros das instituições
financeiras no ano passado. Essa influência de 2011 não se manterá nos
próximos meses. As prefeituras lembram que se a arrecadação do IR for
afetada pela desaceleração da economia, não haverá efeito compensador do
Imposto de Renda para a redução do IPI.
"Nosso receio é de que as reduções do IPI sejam prorrogadas por mais
tempo ou ampliadas. Caso isso aconteça, o impacto maior nas
transferências devem acontecer mais no segundo semestre, quando o
governo federal paga as restituições do IR", diz Angelo Roncalli,
presidente da Associação dos Municípios de Minas Gerais. A entidade
calcula que o benefício do IPI para linha branca concedido entre
dezembro e março teve impacto de R$ 12 milhões no Fundo de Participação
dos Municípios (FPM) das prefeituras mineiras e de R$ 1,4 milhão da cota
no IPI-exportação. Com o aumento de prazo e a ampliação do benefício do
imposto, o impacto nos repasses aos municípios mineiros poderá chegar a
R$ 31,5 milhões.
Roncalli diz que os municípios solicitarão uma compensação. Segundo
ele, o FPM é a principal fonte de receita de aproximadamente 70% dos
municípios mineiros.
"O quadro vai afetar mais Estados e municípios que são mais
dependentes dos repasses obrigatórios da União", diz Panzarini. "Uma
forma de evitar esse quadro seria usar medidas de estímulo ao consumo
por meio de outros tributos, como o PIS e a Cofins, cuja arrecadação
pertence somente ao governo federal."
Amir Khair, especialista em contas públicas, acredita, porém, que a
menor arrecadação do IPI no primeiro trimestre não indica uma tendência
para o desempenho do tributo para todo o ano. Para ele, as medidas do
governo federal provocarão uma retomada de atividade econômica a partir
do segundo semestre, o que resultará numa maior arrecadação de tributos.
Com a recuperação, diz ele, haverá elevação da arrecadação própria de
Estados e municípios, de forma a neutralizar financeiramente o efeito da
política de redução do IPI nos repasses do governo federal.
Para Khair, a política de redução de juros do governo federal aliada à
redução dos encargos ao consumidor pelos bancos terá repercussão a
partir do terceiro trimestre. "Essa política vai dar origem a um crédito
de melhor qualidade, inadimplência menor e maior poder aquisitivo. O
consumo será o fio condutor da retomada."
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ass. Angelo Roncalli
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