Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil
Edição: Beto Coura
...
Brasília – A proposta de emenda à Constituição que submete decisões
do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Congresso Nacional foi recebida com
críticas por integrantes da Corte e pelo Ministério Público. O texto
foi aprovado hoje (24) na Comissão de Constituição, Justiça e de
Cidadania da Câmara dos Deputados e agora será analisado por uma
comissão especial.
Para o ministro Marco Aurélio Mello, a proposta vai de encontro à
cláusula pétrea da Constituição que determina a separação entre poderes.
“Nós temos um sistema em que se verifica o primado do Judiciário. A
última palavra não cabe ao setor político, cabe ao Judiciário. O guarda
da Constituição é o Supremo”, disse o ministro. As cláusulas pétreas não
podem ser alteradas por emendas, somente com a convocação de uma
Assembleia Constituinte.
O ministro acredita que a proposta soa como uma retaliação por
decisões tomadas recentemente pelo Supremo que vão contra o interesse da
maioria da Câmara e de setores específicos, sem identificar quais são
as decisões. “Não creio que para a sociedade brasileira, para o almejado
avanço cultural, esta submissão dos atos do Supremo seja boa. Ao
contrário, é perniciosa”, disse.
Para o ministro Gilmar Mendes, a proposta “evoca coisas tenebrosas”.
Ele lembrou a Constituição de 1937, concebida no regime do Estado Novo
de Getúlio Vargas, que permitia a submissão de decisões do Judiciário à
Presidência da República. “Acredito que não é um bom precedente, a
Câmara vai acabar rejeitando isso”.
Mendes disse que os movimentos do Legislativo contra o Supremo são
marcados “por decepções, frustrações imediatas”, equilibradas
posteriormente por decisões que agradam à maioria. “É preciso ter muito
cuidado com este tipo de interação e acredito que, em geral, tem-se
sabido valorizar a democracia, o Estado de direito, e acredito que será
assim que a Câmara encaminhará”.
Os dois ministros criticaram trecho da proposta que aumenta o quórum
para declaração de inconstitucionalidade, de seis para nove votos. A
Corte tem 11 ministros e geralmente está desfalcada devido a
aposentadorias – agora, por exemplo, aguarda o substituto de Carlos
Ayres Britto, que se aposentou em novembro do ano passado.
Marco Aurélio admitiu a adoção de quórum especial para declaração de
inconstitucionalidade, mas também alertou para as dificuldades que isso
pode trazer na prática. “Aí teríamos nove [votos], quem sabe a utopia, a
unanimidade. Teríamos que ouvir o Nelson Rodrigues no que dizia que
toda unanimidade é burra”.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que não
conhece o texto que tramita no Congresso, mas que “à primeira vista, é
algo que causa perplexidade do ponto de vista constitucional”. Segundo
ele, a proposta “não parece casar muito bem com a harmonia e
independência entre os poderes”.
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ass. Angelo Roncalli
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