ESPECIAL
20/12/2011 - 14h39
20/12/2011 - 14h39
Ricardo Westin / Jornal do Senado
O
Sistema Único de Saúde (SUS) é descrito pelo governo como a maior rede
pública de saúde do mundo. Ao instituí-lo, a Constituição de 1988 foi,
de fato, audaciosa. Determinou que cada brasileiro teria todas as suas
necessidades de saúde atendidas gratuitamente - de uma mera aspirina a
um complexo transplante de coração.
Para tentar
cumprir a lei, o governo federal, os estados e as prefeituras destinaram
à saúde R$ 110,5 bilhões em 2008. Com tal montante, seria possível
construir e equipar mais de 2.200 hospitais de médio porte.
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No
ano 2000, para garantir os recursos do SUS, a Constituição recebeu uma
emenda - a Emenda 29 - fixando o mínimo que cada esfera do poder público
deveria aplicar. A União precisaria investir em saúde o valor do ano
anterior mais o crescimento do produto interno bruto (PIB). Os Estados,
12% de seus impostos. E as prefeituras, 15%.
Brecha na lei
A
Emenda 29, porém, nunca conseguiu acabar com as mazelas do SUS. A
razão: não foi regulamentada até hoje. A Constituição ficou com uma
brecha por não dizer o que são gastos em saúde pública. Assim, os
governantes usam subterfúgios para atingir os mínimos constitucionais.
Usam os cofres do SUS para pagar a despoluição de rios, a varrição das
cidades, a merenda das escolas e até o plano de saúde dos funcionários
públicos. Sem a regulamentação da emenda 29, os governantes interpretam
que tudo isso tem impacto na saúde e pode ser pago pelo SUS.
Em
2008, o Rio Grande do Sul informou ter aplicado em saúde 12,39% das
receitas. Uma auditoria do SUS descobriu que, cumprida a Emenda 29 ao pé
da letra, aplicou apenas 4,37%. Pelas últimas contas do Ministério da
Saúde, a rede pública perdeu R$ 9 bilhões anuais com subterfúgios desse
tipo nas três esferas de governo.
O projeto que
regulamenta a Emenda 29 chegou ao Congresso em 2003. O texto diz,
claramente, o que é saúde pública e o que não é. Limpeza urbana, merenda
e plano de saúde não são. Após anos de tramitação arrastada no Senado e
na Câmara e de promessas eleitorais, a regulamentação finalmente acaba
de ter a votação derradeira. Os senadores a aprovaram duas semanas
atrás. Para valer, depende apenas do aval da presidente Dilma Rousseff.
O
texto desagradou aos defensores da saúde pública. Apesar de
reconhecerem que as "maquiagens" acabarão, eles se queixam de que o SUS
não terá um reforço financeiro tão grande quanto o exigido pelas
dificuldades do dia a dia. Os R$ 9 bilhões hoje perdidos nas
"maquiagens" não chegam perto dos R$ 45 bilhões extras anuais que o
Ministério da Saúde calcula como o necessário para dar qualidade ao SUS.
No
Congresso, o projeto chegou a ganhar dois dispositivos que dariam mais
musculatura ao SUS. O primeiro previa a criação de um imposto para a
saúde - nos moldes da extinta CPMF, que até 2007 respondeu por 35% do
orçamento do Ministério da Saúde. O segundo dispositivo determinava que a
União também teria uma porcentagem a aplicar no SUS - 10% das receitas.
Hoje, destina o equivalente a 7%. Nenhum dos dois dispositivos vingou.
-
É decepcionante. O subfinanciamento do SUS vai continuar - diz Luiz
Augusto Facchini, presidente da Associação Brasileira de Pós-Graduação
em Saúde Coletiva (Abrasco).
Faltou pressão da
sociedade. Segundo Facchini, as classes média e alta veem o SUS como um
sistema de pobres. Esquecem que a vacinação, o programa de Aids, os
transplantes, o controle de epidemias e a fiscalização de alimentos e
remédios são feitos pelo SUS.
Falta de empenho
Para
Francisco Batista Júnior, diretor do Conselho Nacional de Saúde (ligado
ao Ministério da Saúde), não houve interesse nem empenho do governo:
-
Os 10% não passaram porque a equipe econômica é forte. Ela trabalha com
a lógica de economizar, de fazer o ajuste fiscal. O imposto não passou
porque o governo não teve competênciapara convencer a sociedade e a
oposição.
O presidente do Conselho Nacional de
Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Antônio Carlos Nardi,
descreve a regulamentação aprovada como "um balde de água fria":
-
Não é na porta do ministro ou do governador que o cidadão bate quando
não consegue ser atendido no hospital. É na porta do prefeitura. Muitas
prefeituras aplicam 25%, 30% das receitas em saúde. Isso é ingovernável.
Não sobra dinheiro para outras políticas. A situação vai continuar
crítica.
Segundo o ex-ministro da Saúde e atual
líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), em 2012 a Casa formará uma
comissão que terá dois meses para propor novas fontes de financiamento
para o SUS.
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